4.10.11


-"Provérbio mais do que acertado sr Pompeu!"

-"É verdade dona G. mas não passa de um provérbio!"

-"Os provérbios existem porque têm algum fundamento sr Pompeu!"

-"Sim, mas não se podem levar à letra dona G."

-"Se eu juntasse a sabedoria de hoje com a energia de outrora..."

-"Seríamos todos uns super homens e umas super mulheres dona G!"

-"Eu teria feito tudo ao contrário e teria tido menos dissabores na vida sr Pompeu!"

-"Essa agora deu que pensar dona G..."

-"Está a ver onde quero chegar sr Pompeu?"

Fez-se silêncio na mercearia Harrieta e quando dou por ela, o Pompeu tinha os olhos rasos de água. Perguntei-lhe o que tinha. Ele de voz embargada e muito constrangido, disse: -"Não tenho nada dona G... esse é que é o problema! Sou um homem vazio por dentro e por fora! Nunca conheci o verdadeiro amor por medo, nunca me atrevi a a procurá-lo por covardia e nunca tive um dissabor na vida, porque antes que a vida me sacaneasse, afastei toda a gente do meu caminho, magoando antes que alguém me pudesse magoar a mim..."

Saí de lá confusa com a revelação minha amiga... Que seria aquilo afinal? Porquê comigo? Simples desabafo de um velho para outro? Ou uma confissão apertada no peito que saltou fora por não ter mais margem para se conter?...

 

Um beijo com saudade,

 

G.

 

link do postPor A Velha Amarga, às 08:57  comentar

1.10.11

 

 

Sou uma boa cristã como sabes Harrieta, não sou daquelas de bater com a mão no peito e depois esfaquear pelas costas. Vou à missa quando posso, e quando não posso não me esqueço dos ensinamentos que lá vou buscar!

Hoje ao entrar num supermercado fui recebida por uma mão estendida. Uma mulher estrangeira, sentada no chão com uma criança de cerca de 4 anos, estava a pedir esmola. Fiquei doente! Fico sempre com a desumanidade! Parei, e enquanto as outras pessoas passavam por elas como se de invisíveis se tratassem, disse-lhe que quando saísse lhe dava alguma coisa. A menina dormia deitada num cobertor fino e velho. Fiquei de rastos porque estava um frio de rachar e chovia miudinho, e aquele chão de cimento parecia-se com tudo, menos com o lugar quente e acolhedor a que todas as crianças deveriam ter direito na hora do descanso.

Fiz as compras e trouxe numa saca à parte, água, pacotinhos de leite com chocolate, pão, fruta e bolachas. Trouxe também um pequeno brinquedo e entreguei à mulher, dizendo que era para dar à menina! Disse-lhe que dinheiro não lhe queria dar, que me desculpasse. Ela sorriu agradecida e a criança ficou apreensiva quando o brinquedo lhe foi posto nas mãozitas enregeladas. Deu para perceber que não está habituada a este tipo de "luxos"... Ainda conversei um bocadinho com elas e consegui apurar que são romenas. Não percebi se a menina era filha ou neta ou até se lhe era alguma coisa... Vim embora de coração partido e decidi que a minha boa acção não ia terminar por ali. Dirigi-me a um centro de apoio e combate à pobreza e pedi para passarem lá e verificarem a situação. Qual não é o meu espanto e indignação, quando me dizem que para tal era necessário todo um conjunto de formalidades e burocracias, e que só depois iriam contactar as pessoas.

Disse-lhes que o problema era agora e não amanhã ou depois, porque estas pessoas não têm paradeiro certo e tratando-se de uma criança, as coisas deveriam ser agilizadas nesse sentido. 

Riram-se na minha cara, como se eu fosse ingénua e estivesse a dizer a maior barbaridade do mundo. 

Informaram-me acerca do número dos sem abrigo existentes na cidade e no país, acerca dos procedimentos que estavam a ser levados a cabo, acerca do esforço dos governos no combate ao flagelo e ainda sobre o dever de cada um contribuir monetariamente para este tipo de causa, apontando para uma latinha que dizia: Contributos...

Eu nem queria acreditar nos meus ouvidos e nos meus olhos! Olha, passei-me da moleirinha e disse à funcionária loira oxigenada e de unhas vermelhas de meretriz, que era mãe do Dr Fulano de Tal, Juíz de Instrução Criminal e que os punha a todos em contencioso se não adoptassem outro tipo de postura, e ainda que ia enviar uma carta à entidade responsável pela instituição, apresentando queixa sobre a falta de profissionalismo e de boa vontade por parte da  entidade!

Pedi também livro de reclamações e quando me disseram que não sabiam dele, subiram-me cá uns calores, que agarrei no telefone que estava em cima do balcão e gritei que ia apresentar queixa!...

Ahhh.... soube-me bem... afinal as aulas de representação que tive no externato, sempre serviram para alguma coisa! E não é que resultou? E como num passe de mágica, passei a ter atendimente personalizado e priveligiado!

Foi simplesmente magnífico e eu senti-me mais útil do que nunca!

Maravilhoso mesmo!

 

E por hoje é tudo querida amiga, despeço-me com saudade,

 

Da tua sempre,

 

G.

link do postPor A Velha Amarga, às 09:40  comentar


 
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